Desde sua reformulação
a partir do centésimo número, o fanzine QI do mineiro Edgard Guimarães só vem
crescendo, e esta 21ª. edição (17 cm x 22 cm, 24 páginas p&b, impressão digital) reforça este ponto de
vista. Temos na capa tiras produzidas pelo próprio editor, em 1987, satirizando
famosos personagens infantis como Cebolinha,
Mafalda e Charlie Brown. Depois do breve catálogo de gibis & revistas à
venda, e do editorial (indispensáveis na segunda página da publicação) temos a
indefectível coluna dos ‘Heróis Brasileiros’, sendo abordado neste número o Sepé Tiaraju de Flávio Colin, em artigo escrito
pelo Edgard Guimarães e que vai muito além do personagem, apresentando uma
visão equilibrada da História do período (fins do século XVII), citando todas
as publicações com o Sepé ou que fizessem referência a ele. Worney de Souza,
além de sua coluna habitual (‘Mantendo Contato’), escreve sobre a paulistana
Editora Graúna, que teve sua importância no mercado de Quadrinhos brasileiros
no final da década de 60, chegou até a publicar personagens da Marvel Comics
que se tornariam famosos posteriormente, especialmente o Conan. Mas Worney destaca duas edições em particular, da brevíssima
coleção da revista Far-West, que
apresentou HQs de faroeste produzidas por autores brasileiros – incluindo um
personagem muito interessante chamado Joe Merril, um médico bom de tiro, que
chegou a aparecer em algumas outras aventuras em outros gibis de faroeste
brasuca. Na ‘Mantendo Contato’, Worney aborda três edições distintas, destaque
para Michelle, A Vampira de Emir
Ribeiro, ganhando uma edição capitaneada pelo próprio Worney.
Que bacana, uma página
com tiras do Sacarrolha, o memorável
personagem de Primaggio Mantovi – que foram parar nas mãos do editor e nas
páginas deste número do QI graças ao
boa praça e amigo Paulo Miguel dos Anjos (Benjamin
Peppe). E o editor Ed Guimarães ataca com outro ótimo artigo, sobre a
trajetória do personagem Smilinguido,
não só nos Quadrinhos, bem como produtos diversos. Se no artigo sobre Sepé Tiaraju Ed faz
citação oportuna de Voltaire, aqui ele próprio faz uma troça sobre consumismo que
provavelmente divertiria o próprio Voltaire!
O editor ainda nos
apresenta a coluna (que se tornou uma das favoritas entre os leitores do
fanzine) ‘Mistérios do Colecionismo’, e o tema abordado não poderia ter sido
melhor, particularmente para mim que cresci lendo os formatinhos da Ebal, marcante
era a coleção Edição Extra em formatinho,
que apresentava personagens variados da DC Comics nos anos 70, quando essa
editora ainda publicava alguma coisa que valia a pena. E o Edgard Guimarães nos
passa a relação completa dessa ‘coleção informal’, vamos dizer assim.
Completinha da silva! Amo com afeição nostálgica a coleção Edição Extra em formatinho da Ebal, da qual ainda guardo alguns
excelentes exemplares.
‘No Depoimento do
Editor’ na ‘Memória do Fanzine Brasileiro’, a hora e a vez do jornalista e
historiador auto-didata Gonçalo Júnior, o fanzineiro precoce que se tornou o
notável autor do livro A Guerra dos Gibis,
e de tantas outras notáveis pesquisas. Gonçalo não gosta muito que eu lembre
disso, mas foi seu livro A Guerra dos
Gibis que me inspirou decisivamente para criar a cooperativa que hoje
chamamos de Júpiter II.
Além do Forum e a lista das publicações independentes,
os leitores do renovado QI se acostumaram aos encartes & brindes concedidos
pelo fanzine nos últimos números – e desta feita temos mais três: dois ‘Cotidianos
Alterados’, apresentando num lado da folha um cartum de Edgard Guimarães; e no
verso uma breve crônica informativa-opinativa do editor a respeito de obras que
são verdadeiras raridades na História dos comics,
desta feita os personagens abordados são Max
und Moritz, do alemão Wilhelm Busch (no Brasil publicados como Juca e Chico), os irmãos traquinas e
bagunceiros que serviram de inspiração aos Sobrinhos
do Capitão; e o outro personagem abordado é Nibsy the Newsboy, criação do incrível George MacManus, o célebre
autor de Pafúncio e Marocas/Bringing Up
Father), produzido antes do sucesso deste último. De quebra, um encarte de
oito páginas apresentando o artigo de Gazy Andraus intitulado “A Imagética na
Memória ou A Estruturação da Psique Criativa Infanto Juvenil por meio do
Panvisual”. Calma, não se assustem, eu também pensei que fosse um daqueles
artigos que só se lesse na academia, mas me surpreendi positivamente com o tom
informal e afetivo com que o autor expressa a influência que recebeu, na tenra
idade, dos Quadrinhos e suas variantes, álbuns de figurinhas, álbuns ilustrados
informativos, brindes em outros produtos comerciais, etc. Leitura muito
agradável.
Na contracapa, a intenção do editor é manter os
cartuns de seu personagem Poeta Vital
– produzido entre 1993 e 1994, eu mesmo não me lembrava dele, ou ainda não o
conhecia, parece ser muito divertido. Pra quem ainda não conhece, então é hora
de conhecer não só o Poeta Vital mas
todo o conteúdo do QI, contatando o
Edgard Guimarães em edgard@ita.br (JS)
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