domingo, 7 de setembro de 2014

REFLEXÕES SOBRE O 7 DE SETEMBRO

O maior e melhor historiador do Brasil, na atualidade, chama-se Laurentino Gomes. Três de seus livros tornaram-se, justamente, alguns dos mais vendidos nas livrarias brasileiras, todos eles intitulados com os anos que marcaram efemérides decisivas na História brasileira: 1808 (chegada da Família Real portuguesa ao Brasil), 1822 (Independência do Brasil) e 1889 (Proclamação da República). Nestes três livros, Gomes comete um único deslize – lamento muito dar ênfase a um único deslize numa obra formidável, magnífica, indispensável, que todos deveriam conhecer, mas é um bom ‘gancho’ para o que eu gostaria de dizer nas linhas que seguem. Pois bem, o referido único deslize do notável historiador aparece no livro 1822:

                Em 1972, ano do Sesquicentenário da Independência, D. Pedro foi mostrado no filme Independência Ou Morte como um herói de porte marcial, sem vacilações ou defeitos, interpretado pelo ator Tarcísio Meira. Era a moldura que lhe cabia naquele momento em que o governo militar torturava presos políticos, propagandeava o milagre econômico e tentava dourar a história oficial nas disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil.

                Bem, vamos começar do início, diria o Conselheiro Acácio: o filme citado por Gomes, praticamente banido entre nós, não mostra D. Pedro I como alguém “sem defeitos”. Os defeitos são apresentados sim, mas sem a ênfase que se dá a eles nos dias de hoje, como um amante das noites boêmias e fascinado pelo sexo feminino. Sua infidelidade conjugal também não é ocultada. Tampouco a soberba que tomou conta de seu espírito, durante um breve tempo em seu curto reinado. Provavelmente Gomes não tenha conseguido rever o filme, já que nunca é reprisado em lugar nenhum, tampouco foi relançado em dvd. No começo deste século, a revista Isto É lançou uma série de filmes em vídeo-cassete (VHS), e entre eles o Independência Ou Morte dirigido por Carlos Coimbra. Foi a última vez que tivemos notícia deste filme, e talvez por isso Laurentino Gomes não tenha conseguido re-assistí-lo, para formar melhor opinião sobre ele. Eu tenho lembrança muito forte desse filme. Lembro-me de tê-lo assistido pela primeira vez no Cine Rio Preto, da cidade de São José do Rio Preto, um imenso cinema com 1100 lugares (hoje é um shopping center). Lembro-me também das imensas filas que se formavam, atravessando praça do centro da cidade (foi um retumbante sucesso nacional de bilheteria), e me lembro, especialmente, da eufórica vibração da platéia, com urras e aplausos, na seqüência marcante do Grito do Ipiranga, quando o ator Tarcísio Meira, na plenitude de seu vigor físico, incorporando todo o heroísmo daquele momento histórico, encarnou o que de melhor havia em D. Pedro de Alcântara! Revendo o filme, há pouco tempo atrás – consegui uma cópia do VHS da Isto É e repassei as imagens em dvd – pude constatar que filme grandioso é Independência Ou Morte, muito além da citação simplista de Laurentino Gomes. Uma super-produção caprichadíssima de Ovaldo Massaíni, contando com os atores & atrizes mais famosos da época (alguns o são ainda hoje), e retratando com muito respeito os personagens e os acontecimentos históricos. Mais desastrada ainda do que a opinião de Gomes sobre o filme, é a conotação política que expressa sobre ele, onde algum leitor desavisado poderia até mesmo ter a impressão de que o ator Tarcísio Meira defendia a tortura de presos políticos. Também parece desgostar a Gomes o sistema de ensino dos governos militares, particularmente as disciplinas citadas de EMC e OSPB.
                Repito: a obra de Laurentino Gomes é uma das melhores coisas que poderia ter acontecido para a historiografia brasileira, com sua análise e suas impressões bastante lúcidas sobre o Império brasileiro, a partir de estudo riquíssimo. Mas me permito discordar inteiramente de suas opiniões naquele que considero seu único deslize. Fiz o ensino básico no tempo do governo Geisel e agradeço aos céus ter tido a oportunidade de ter estudado a História do Brasil sob a ótica dos grandes heróis, dos grandes acontecimentos. Vejam que tristeza que se tornou o ensino brasileiro depois que isso foi erradicado, e entrado em seu lugar as pedagogias freirianas, marxistas, marcusianas, gramcistas, enfim, toda esse excremento comunistóide, toda essa pobreza coletivista que vem transformando nossos jovens em bestas analfabetas e enfurecidas, revoltados com o Brasil. Se antes saíamos da sala de aula cheios de esperança com o nosso país, honrados de ser brasileiros, hoje existe ou o alienamento pleno, ou a ferocidade anti-civilizatória. De resto, não custa lembrar que os governos militares não se resumiram unicamente na tortura aos terroristas encarcerados. O tão propagandeado ‘milagre econômico’, não existiu mesmo? Não teve o Brasil, especialmente sob o governo do Presidente Médici, um salto econômico e desenvolvimentista jamais visto antes? Mesmo porquê, o país passava por um momento histórico inédito, da crescente urbanização do país. E a infra-estrutura construída no período, as estradas, as usinas? Alguém pode imaginar, por exemplo, o Rio de Janeiro sem a ponte Rio-Niterói, ou o Brasil sem Itaipu? E comparemos: o atual governo socialista, há 12 anos mamando no poder, fez o quê, a respeito de infra-estrutura? Simplesmente aproveita-se do que foi construído durante os governos militares! E ainda levou a ruína nosso sistema educacional! Se antes os grandes personagens de nossa História, aqueles homens que impulsionaram o Brasil para a grandeza, eram exaltados com o merecimento que conquistaram por suas atitudes corajosas e heróicas, hoje em dia, no processo de desqualificação dos nossos vultos históricos, faz-se indispensável a chacota, o deboche, a ironia e o sarcasmo ao retratar aqueles mesmos personagens. Dentre eles, nenhum vem sendo tão ridicularizado quanto D. Pedro I. Hoje em dia, nosso grande herói só é lembrado por suas fraquezas, por seu gosto por noitadas e fascínio pelo sexo feminino. Os que atualmente dão as cartas nos currículos escolares, e que não perdem oportunidade de menosprezar o nosso primeiro Imperador, poderiam ao menos lembrar-se do que disse Humberto de Campos:

As aventuras amorosas de D. Pedro eram perfeitamente comentadas pelas anedotas da malícia carioca. O povo, conhecendo alguma coisa de sua conduta particular, se encarregou de elaborar a maior parte de todas as histórias ridículas em torno de sua personalidade, que, se rude e sensual, não era diferente da generalidade dos homens da época e tinha, não raras vezes, rasgos generosos, que alcançavam os mais altos cumes do sentimento.

                Ou seja, aqueles que falavam que D. Pedro era mulherengo e beberrão eram, em sua maioria, igualmente mulherengos e beberrões! Sem que detivessem, é claro, um rasgo sequer de suas notáveis virtudes.



                Se o estrago feito pelos nossos pedagogos dos ensinos fundamental e médio foi terrível, não se compara ao que foi feito e ainda vem sendo feito nas universidades – especialmente nas do campo de humanas, notadamente nos cursos de História, que vêm se especializando em transformar alunos em feras rancorosas, odiando cada momento em que vivem no Brasil – claro, nem todos saem assim, mas são tantos, e tão grandes estragos vêm promovendo na sociedade, que não podem deixar de ser denunciados. Eu mesmo fui vítima dessa engrenagem maligna: aluno do curso superior de História, lia muito Marx, Gramsci, Marcuse, Hobsbawun, Paulo Freire, dentre uma incontável lista de teóricos comunistas. Só vim a realmente estudar História, particularmente História do Brasil, depois que concluí a faculdade. E hoje me pergunto, perplexo: como será possível que um curso de História do Brasil que se preze, não conste em seu currículo um autor como Octávio Tarquínio de Souza? (uma das mais preciosas fontes de Laurentino Gomes, diga-se) Pois foi através desse valoroso historiador nascido no ano de proclamação da República que nos foi legada a mais importante obra sobre os Fundadores do Império Do Brasil, onde foi possível conhecer verdadeiramente a importância de D. Pedro I para a nossa História. Souza o retrata como um homem dotado de virtudes e defeitos, mas enfatizando a grandeza de suas decisões num momento histórico decisivo para a nação brasileira. Foi através da obra de Souza que pude constatar as fascinantes contradições daquele personagem, um português de alma brasileira, ao mesmo tempo autoritário e liberal (fechou a Assembléia Nacional sob a força dos canhões, e em seguida outorgou uma Constituição que foi considerada muito avançada para a época, com uma lei criminal e uma lei orçamentária inovadoras), explosivo e terno, marido infiel e pai extremamente dedicado e amoroso, até mesmo com seus filhos bastardos. Mas, o que mais impressiona ao se estudar cuidadosamente a vida de D. Pedro, é a firmeza de seu caráter para tomar decisões políticas certas nos momentos cruciais: no dia do ‘Fico’, no Grito do Ipiranga, na abdicação – decisões corretíssimas que visavam, acima de tudo, a pacificação do Brasil. Sempre enfrentando, desde a infância, difíceis problemas de saúde, danos gastro-intestinais, e o mais grave deles: os ataques de epilepsia. E jamais nos esqueçamos de que, quando optou por ficar no Brasil e posteriormente proclamar sua Independência política, D. Pedro ainda não havia completado 24 anos de idade! Um jovem, levado a tomar decisões tão importantes! E, no momento mais doloroso, o de sua abdicação, renunciou não só ao trono, mas a si mesmo, à Pátria amada que adotou como sua, ao filho e as filhas que tanto amava (seguiu com ele somente a primogênita Maria da Glória, futura Maria II Rainha de Portugal), tudo isso para que o Brasil não descambasse para a guerra fratricida!
                Ninguém nega os defeitos de D. Pedro, nem a História. A sua paixão descontrolada pelo sexo feminino impediu-o de ser um marido fiel, e por isso várias humilhações teve que suportar sua esposa, e mãe daquele que futuramente seria D. Pedro II, a imperatriz Leopoldina. O Brasil tem muito a agradecer a esta senhora, por sua dedicação familiar e sua presença importante nos eventos políticos, aliada indispensável de José Bonifácio nos acontecimentos que antecederam a Independência. A mais grave acusação que pesa contra D. Pedro I é a de que teria espancado a imperatriz quando grávida, e resultando disto, um aborto. Tarquínio de Souza diz expressamente que não há provas concretas sobre isso; também Laurentino Gomes, anos depois e com maiores dados historiográficos, não chega a uma conclusão perfeitamente afirmativa. Mas, de qualquer modo, as diversas humilhações sofridas pela Imperatriz, diante das constantes infidelidades do marido (notadamente no episódio da viagem a Salvador, onde D. Pedro I, sem qualquer constrangimento, levou consigo sua amante Domitila de Castro), fizeram adoecer o coração da nobre Leopoldina, tristeza e melancolia que acabariam por levá-la à morte. O que os detratores de D. Pedro I omitem dizer, foi o avassalador remorso que dominou os sentimentos do imperador depois do falecimento de sua esposa, a ponto de desfazer o relacionamento com a amante Domitila, e ter adotado postura totalmente distinta com sua segunda esposa, a Imperatriz Amélia, com quem teve um relacionamento quase fiel – quase, afinal, o homem era decididamente fascinado pelos prazeres do sexo.
                Outro ponto onde se procura de todas as formas diminuir a importância de D. Pedro I, é o exato momento da proclamação da Independência, o Grito do Ipiranga. O esforço dos pedagogos marxistas, aqueles que promovem entre os jovens o ódio pelo Brasil, é ridicularizar o quanto possível aquele indispensável momento de nossa História. A imagem que tínhamos durante os governos militares, era ainda aquela do quadro de Pedro Américo, O Grito do Ipiranga, de 1886. Nele, D. Pedro, trajado galantemente, montado num fogoso alazão, cercado pelos Dragões da Independência, ergue a espada triunfante, proclamando a Independência do Brasil. No filme de Carlos Coimbra, essa imagem é posta em movimento, e lá ouvimos o retumbante brado ‘Independência Ou Morte’, vindo daquele D. Pedro interpretado majestosamente por Tarcísio Meira, na seqüência cinematográfica que empolgava os espectadores brasileiros. Octávio Tarquínio de Souza apresenta documentos históricos que comprovam que a coisa não havia sido bem assim, que ao invés de um alazão, D. Pedro montava num burrico, assim como sua delegação, pois era aquele o animal mais indicado para percorrer aquelas regiões, na época. E que nosso herói havia sido, de fato, acometido de alguma deturpação intestinal que lhe obrigou a parar viagem, e neste momento recebeu a notícia de que as cortes portuguesas exigiam seu retorno ao velho continente. Foi então que nosso nobre monarca decidiu-se, de uma vez por todas, pela Independência política do Brasil.
                Pois bem, em momento algum, mesmo diante dos documentos, Tarquínio desmerece aquele importante, decisivo momento histórico. Para ele, o fato de um jovem príncipe ter tomado tão corajosa decisão, apenas enaltecia seu caráter. Mas, as circunstâncias materiais daquele momento, a necessidade de se usar mulas como transporte naquelas regiões inóspitas, e a fraqueza estomacal de D. Pedro (um problema que o acompanhava desde a infância, agravado pela alimentação inadequada da viagem) transformaram-se em momentos de grande escárnio, e, pasmem, não somente para os historiadores marxistas, mas até mesmo um filósofo do porte de Olavo de Carvalho escreveu texto ridicularizando D. Pedro por aqueles motivos. Todos desmerecendo o fato de que um jovem de 23 anos se viu diante de uma situação periclitante, que prescindia de uma decisão firme, corajosa, a favor do Brasil. E desta forma agiu nosso Príncipe, a favor do Brasil, pouco importa se montado num alazão ou num burrico, pouco importa se desfrutando de plena saúde ou sofrendo problemas estomacais. Quando Pedro Américo apresentou sua tela aos jornalistas no final do século XIX, defendeu seu trabalho diante dos fatos históricos reais (citado por Laurentino Gomes):

Se tal ocorrência foi com efeito real, e até mereceu atenção do cronista, ela é indigna da História, contrária a intenção moral da pintura, e por consequência imerecedora  da contemplação dos pósteros.

                E recorro ao cronista Nélson Rodrigues que, neste caso, não teria dúvida em afirmar que, se a imaginação é melhor do que os fatos, pior para os fatos! Se os intelectuais desprezam a proclamação da Independência do Brasil e seu principal protagonista, o mesmo não acontece com a dupla de cancioneiros Carreiro e Carreirinho, que apresentou ao público a graciosa moda de viola 500 Anos de Brasil, cantando, numa das estrofes:


Salve D. Pedro I
A Independência Conseguiu
Lá nas margens do Ipiranga quando seu sangue subiu
A carta de Portugal ela tremeu quando abriu
Com seu braço rijo e forte
Gritou Independência ou Morte e ninguém deu um pio.


                A respeito da vida de D. Pedro I após a abdicação, repousa um silêncio sepulcral da parte dos historiadores marxistas, dos historiadores do deboche, do sarcasmo, dos propagadores do ódio e da revolta entre os estudantes. De fato, como ridicularizar as atitudes do nobre monarca, após 1831? Como negar o líder militar inconteste na terrível lide contra as forças militares superiores do irmão Miguel, o usurpador do trono português? Como desmerecer a heróica resistência de um ano na cidade do Porto, até receber finalmente ajuda militar das grandes potências da época, Inglaterra e França? Como não se emocionar sabendo que as agruras daquela brava resistência agravaram em seu organismo as doenças das quais já sofria, e que resultariam em sua morte, com pouco mais de trinta anos de idade? Morte que só veio após outra vitória, a restauração do trono português a favor de sua filha Maria da Glória, coroada como Maria II.
                Eis um grande desafio para nós, que nos denominamos ‘formadores de opinião’. Que tipo de História devemos escolher para repassar aos mais jovens? Aquela contada nos bancos escolares do tempo dos governos militares, exaltando os heróis nacionais, os seus grandes feitos a favor do Brasil, quando explodíamos de alegria ao assistir o filme Independência ou Morte, ou aquela que temos hoje, e desde há vários anos, a ideologia socialista-comunista que já formou uma geração de jovens que odeiam o Brasil, cujas consequências puderam ser tristemente constatadas na cidade de São Paulo, no 7 de Setembro de 2013: enquanto, na Avenida Paulista, os nojentos black blocs queimavam a bandeira brasileira, no parque do Ibirapuera os molambentos da extrema-esquerda vilipendiavam o Monumento dos Bandeirantes hasteando a bandeira não do Brasil, mas da Cuba comunista! É isso que queremos para o Brasil? Black blocs, pt e psol? Um “Cubão”? Quem não quiser odiar o Brasil e seus heróis, encha o peito e grite comigo:
Viva D. Pedro I!
Viva o Grito do Ipiranga!
Viva o Sete de Setembro!
Viva a Independência do Brasil!