quinta-feira, 5 de julho de 2012

OS TEÓRICOS MARXISTAS DOS QUADRINHOS - ELITISTAS E DESTRUIDORES DE GIBIS


Se o sr. Sigmund Freud realmente estiver com a razão, todos nós passamos, em nosso desenvolvimento físico, uma fase em que sentimos desejo de consumir nossas próprias fezes – é a tão famosa ‘fase anal’, ou coisa que o valha. Pois bem, permitam-me os leitores fazer uma comparação, estapafúrdia que seja, com nosso desenvolvimento intelectual – e, se por acaso lhes parecer mesmo estapafúrdia, compreendam como saída metafórica da qual este pobre escriba faz uso para tentar esclarecer seu ponto de vista.
Deste modo, em nosso desenvolvimento intelectual, quando já crescidos buscamos nos informar através dos livros e de ensinamentos diversos, nós também passamos por uma fase em que somos atraídos por excrementos – excrementos teóricos ou literários. No caso específico das Histórias-em-Quadrinhos, os excrementos intelectuais seriam os livros teóricos escritos por autores marxistas – e, para quem cresceu a partir dos anos 70/80 do século passado (em pleno governo militar considerado ‘de direita’) não havia escapatória: todos os teóricos dos Quadrinhos eram de viés comunista-esquerdista-marxista-leninista-stalinista-gramsciano, etc. Livros escritos por pessoas que, quando crianças e jovens, deleitavam-se com a leitura das grandes obras dos Quadrinhos, com alguns dos mais maravilhosos personagens já criados, e criados majoritariamente por autores estadunidenses, refletindo, portanto, os valores daquela sociedade. Acontece que, assim que aqueles antigos jovens leitores de Quadrinhos ingressaram na universidade, tomaram contato com a ideologia marxista, por ela se apaixonaram e se deixaram levar. Sendo o anti-americanismo um dos pilares do marxismo de algibeira, aqueles que um dia amaram os personagens clássicos das HQs, passaram a odiá-los, e mais: escreveram contra eles, repudiando-os da maneira mais abjeta possível e, agindo assim, evidentemente acabaram influenciando tantas outras pessoas através de seus livros. O resultado prático estamos vendo hoje: os personagens clássicos das grandes obras dos Quadrinhos, monumentos culturais da humanidade, foram sumindo das bancas até desaparecerem totalmente, mesmo personagens ultra-populares no passado, como o Fantasma, o Tarzan, e o Mandrake, sucumbiram diante da implacável militância teórica dos comunistas das HQs. Portanto, se hoje em dia só encontramos nas prateleiras das bancas os mangás e os personagens Marvel/DC (estes cada vez mais abomináveis); se as publicações com Histórias-em-Quadrinhos vêm se tornando cada vez mais restritivas, cada vez mais elitistas, devemos esse triste estado de coisas aos teóricos marxistas-gramscianos. Existe ainda um ou outro fanzineiro que elogia as grandes obras do passado, mas, para não ficar ‘ruim na fita’ com seus pares, emplaca um anti-americanismo de dar pena, mesmo que as páginas do fanzine sejam dominadas pelos personagens americanos – um portal de incoerência e de insanidade, caso que necessitaria de atendimento psiquiátrico na ala dos esquizofrênicos.
Os livros teóricos marxistas sobre HQs acabam provocando, acima de tudo, prevenção e preconceito contra os personagens lá analisados. O Fantasma e o Tarzan, por exemplo, não tiveram muita chance: ainda que nas histórias, por incontáveis vezes se mostrassem destemidos defensores dos povos nativos da selva contra os exploradores brancos, foram eles considerados pelos teóricos comunistas os piores ‘colonialistas e imperialistas’ do mundo. De modo que, um jovem leitor que tivesse tido a infelicidade de ler algum livro de viés comunista sobre os Quadrinhos antes mesmo de ler uma única HQ do Fantasma ou do Tarzan, diante de tanto preconceito que encontrasse naqueles livros criaria para si tamanha prevenção contra aqueles personagens, que jamais poria os olhos numa historieta deles, quanto menos comprar um gibi.
Outra personagem que se tornou alvo preferencial da histeria comunista foi Aninha A Pequena Órfã/ Little Orphan Annie, de Harold Gray. Tira diária em Quadrinhos lançada nos jornais no dia 5 de agosto de 1924, começou como tira humorística a respeito de uma jovenzinha ruiva, Annie, com seu cãozinho Sandy. Com o passar dos dias e o ingresso de novos personagens, especialmente o milionário ‘Daddy’ Warbucks/ Papai Warbucks (que viria a adotar a pequena Annie) e seu fiel empregado hindu, Punjab, a série foi ganhando contornos de aventura (mas sem perder jamais o bom humor) que a consagrou entre os leitores. Após a morte do autor em 1968, outros tentaram dar sequência à tira, mas de forma medíocre. Nem mesmo o grande Leonard Starr conseguiu melhores resultados. Pior ainda foi a sátira depravada que Harvey Kurtzman produziu para a revista dos onanistas marmanjos, a Playboy. Muito mais dignas foram as adaptações para os palcos da Broadway e um filme musical (Annie, de 1981), ambos dirigidos por John Huston. O filme não fez sucesso, uma pena, mas eu adorei e o tenho em dvd.
No Brasil, Aninha A Pequena Órfã também tornou-se muito popular e muito querida entre o público leitor antes do advento dos teóricos comunistas. Foi Adolfo Aizen quem começou a publicá-la entre nós no Suplemento Juvenil a partir de 1938, posteriormente passando às organizações da família Marinho, aparecendo na revista Biriba a partir da década seguinte. A personagem retornou numa história solitária no sexto e derradeiro número do Almanaque Do Gibi Nostalgia, através da RGE de Roberto Marinho, maio de 1977. Quando por ocasião do lançamento deste Almanaque, o estrago dos teóricos marxistas já estava feito. Nunca mais foi publicada por aqui. Isso porque a tira já havia sido punida e condenada pelos boçais, especialmente devido a função exercida pelo Papai Warbucks: era fabricante de armas. Mas, o mais óbvio exercício de reflexão histórica mostra que, nas primeiras décadas em que Annie estava sendo produzida e lançada nos jornais, pairavam os rancores da Primeira Guerra Mundial, a ameaça nazi-fascista-imperialista já se fazia sentir em negras nuvens, até que as agressões militares se dessem por todo o planeta, iniciando o segundo conflito mundial. Fabricar armas, naquela ocasião, era instinto de defesa dos países atacados, especialmente entre aqueles que se esforçavam nos modelos democráticos.
Ah, mas relendo essa HQ da Aninha no sexto número do Almanaque Do Gibi Nostalgia, fica muito mais fácil compreender a aversão que os teóricos bocós do comunismo sentem pela tira de Harold Gray: no dia de Ação de Graças, o ‘reacionário’ Papai Warbucks, mesmo sendo bilionário e podendo organizar a mais nababescas das festas, empanturrando a si mesmo e a seus convidados com beberagens e glutonarias, decide passar o feriado, ao lado de sua filha adotiva, na casa de um humilde casal de agricultores, desfrutando de frugal refeição – após a qual, sentado ao pé de uma lareira, o ‘reacionário’ reflete:


Todos nós temos o que agradecer, mas acho que a maior benção de todas é termos uma menina como a Aninha, que foi enviada para este mundo para fazer nossas vidas valerem a pena.


Esta singela passagem, caros leitores, revela muito bem as causas da aversão dos teóricos do marxismo contra Aninha, A Pequena Órfã. Pois sabemos que, ainda mais do que o sentimento anti-americano, o leitmotiv da comunistada, o que move os seguidores do stalinismo e do gramcismo a mostrar suas garras ao mundo é o sentimento anti-cristão (por isso consideram o cristianismo como sendo o ‘ópio do povo’). Como admitir, então, um personagem como o Papai Warbucks, que agradece a benção de ganhar uma filha, ainda que adotiva?
Demorou para ‘cair minha ficha’, mas há um bom tempo consegui me livrar da influência maléfica dos teóricos vermelhos dos Quadrinhos, antes mesmo que seus pares tomassem o governo brasileiro e fizessem o que ainda estão fazendo na administração pública. Hoje é fácil de entender porque desprezam e rejeitam heróis como o Fantasma, o Tarzan, o Superman (o do passado, não a josta em que os atuais roteiristas o transformaram). Este, mesmo com poderes para dominar o mundo e fazer dele uma extensão do que fizeram Stálin e Mao Tsé-tung, usa toda sua força, todo seu sentimento, na defesa de seus irmãos mais fracos – ele que nem mesmo nasceu em nosso planeta. Por isso é repudiado pelos comunistas teóricos das HQs, que preferem os personagens de chiclete com banana – preferem mulheres bêbadas, drogadas e depravadas, punks que saem cuspindo em qualquer pessoa que não pense como eles; para os fiéis seguidores de Antônio Gramsci, muito melhor do que o incansável defensor dos seres humanos é um solteiro desocupado com seringa no nariz, excitado para fazer sexo incestuoso com a própria mãe; muito mais digno do que os defensores dos povos nativos africanos, são os piratas de rios fedorentos, saqueadores e estupradores amorais.
Graças a Deus me livrei dessas influências perniciosas! Graças a Deus superei a ‘fase anal’ de minha instrução intelectual! Graças a Deus esses teóricos comunistas que antes me impressionavam, hoje me causam repulsa e/ou comiseração! Por isso minhas coleções de chiclete com banana, circo e geraldão já foram para o lixo, e hoje junto meu dinheiro na esperança de adquirir a recente edição da IDW Publishing, republicando em álbum de luxo as tiras diárias e páginas dominicais de Little Orphan Annie – e, querem saber? Sou capaz de apostar que os tais teóricos marxistas, escondidinhos, já compraram esse álbum para suas coleções! Afinal de contas, apesar de mal-vestidos, são mais ricos do que eu – e vocês sabem que não posso ser considerado exatamente um pobretão, hein? (JS)

Um comentário:

hugolt disse...

Salles, gostaria de indicações de bons livros teóricos sobre quadrinhos (se achar que vale a pena se estender sobre o assunto - e eu acho que vale - fica também a sugestão de uma postagem no blog sobre o assunto). Do mesmo modo, fiquei curioso quanto a esses teóricos marxistas dos anos 70/80. Poderia citar alguns nomes e/ou trabalhos deles? Agradeço desde já.