quinta-feira, 10 de maio de 2012

SURGE UM NOVO SUPER-HERÓI BRASILEIRO: CAPITÃO R.E.D.

 
Em mãos uma nova revista apresentando um novo super-herói brasileiro dos Quadrinhos, enriquecendo esse panteão cada vez mais diversificado, e rico: trata-se de Capitão R.E.D., numa bonita apresentação gráfica – no formato americano (25,5 cm x 16 cm), capa cartonada e plastificada contendo 36 páginas em papel couchê – ficamos conhecendo esta empreitada de Elenildo Conceição Lopes (o criador do personagem) e seus parceiros. Deixemos que o próprio autor explique o porquê desta revista vir ao mundo, impressa: “este projeto sempre esteve em meus sonhos: criar um site (http://www.meuherói.com.br/) e o transformar em uma marca e selo editorial. Agora produzimos nossa primeira HQB. Não tenho palavras para descrever tamanha felicidade”. E esse entusiasmo do roteirista e editor acabou mesmo indo parar nas páginas da revista, em HQ muito bem narrada, bem escrita, com promissores personagens. A história de Capitão R.E.D. se passa em cenário fluminense, entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói (que é a cidade natal de Elenildo), num futuro bem próximo (ou presente atual?). Financiada pelo governo federal e pela ONU, a tropa especial Distrito de Risco e Emergência tem a finalidade de combater o crime organizado, cada vez mais poderoso diante da crescente corrupção política. Seu líder é Ellano, que, vestindo armadura com notáveis engenhos tecnológicos de ataque e defesa, é conhecido como Capitão R.E.D. De cara a tropa vai estar enfrentando chumbo grosso. As páginas finais são dedicadas a um personagem chamado Davi, um jovem pouco mais que um adolescente – ao que tudo indica, pode vir a se tornar um parceiro para o herói principal, vamos aguardar. Histórias ilustradas por A-Lima e colorizadas por Gil Santos.



Bem vindo ao front (ao front impresso, vamos dizer assim, pois no front virtual você já estava), Elenildo. Com este seu personagem, prepare-se para ganhar um número considerável de fiéis admiradores, mas prepare-se também para suportar os maus modos de uma minoria barulhenta e perniciosa, que invadirá sites e blogs, seus e de outros que o apoiem, para deixar insultos, injúrias, provocações, sarcasmos, tudo feito de forma gratuita, sem terem ao menos pego o gibi em mãos. Isso é resultado do que vem sendo feito no mercado editorial brasileiro deste a década de 80 do século passado, devem agir assim influenciados por tantas besteiras de tantos autores ruins de Quadrinhos ruins que conhecem e cultuam, principalmente autores ingleses e japoneses. Pergunte a quem já sofreu e vez por outra ainda sofre agressões desta forma: Emir Ribeiro, Lorde Lobo, Samicler Gonçalves, euzinho, e tantos outros brasileiros que insistem em realizar seus super-heróis de papel. Os detratores da HQB certamente vão lhe apontar o dedo dizendo: ‘plágiário’. Mas claro, contentemo-nos com a maioria do nosso público, que é muito maior e melhor do que os iludidos ‘trolls’.


De minha parte, falando como autor de personagens, reconheço a dificuldade de se criar algo original, a respeito de super-heróis de gibi, nos dias de hoje. E não somente nos dias de hoje. Afinal de contas, homens fantasiados no combate ao crime nas Histórias-em-Quadrinhos surgiram ainda no final da década de 30 do século passado, que viram surgir The Clock/O Pulso; The Phantom/O Fantasma, e o Superman/Super-Homem. Antes mesmo destes distintos cavalheiros, inimigos do crime usavam disfarces para defender a lei, ainda que fossem incompreendidos por isso, nas páginas dos livrinhos pulps (os livros de 10 centavos vendidos às pencas e que publicavam contos e romances de diversos gêneros fantásticos e literários), vistos em personagens como Phantom Detective/Detetive Fantasma, The Spider/Aranha Negra, The Black Bat/O Morcego Negro (este que muitos juram ser o precursor do Batman, de Bob Kane), e não nos esqueçamos do mais famoso de todos, The Shadow/O Sombra.


Os amigos me permitam duas breves citações: a primeira delas, de Carl Burgos, o criador do Human Torch/Tocha Humana, em depoimento a Jim Steranko (um grande artista entrevistando outro grande artista!). Burgos, partícipe ativo da ebulição dos comics na década de 40 do século passado, grande época dos super-heróis dos gibis, falou a respeito do que se pensava a respeito disso, no furor dos acontecimentos:


        Nós os chamávamos simplesmente de ‘personagens’. A palavra ‘super-herói’ não existia, senão muito mais tarde. Quando nós os criávamos, não sabíamos quais personagens iriam surpreender. Apenas fazíamos o melhor que pudéssemos.


Ah, e como fizeram bem e bonito! Quantos personagens memoráveis nos legou a geração da qual fez parte Burgos! E Jim Steranko, jovem leitor de gibi dos anos 40, nos relembra uma característica indissociável do mercado editorial norte-americano dos comics naqueles tempos:


       Quando dezenas de escritores e artistas produzem material para consumo de massas, seguindo as mesmas idéias gerais para a criação de ‘super-personagens’, literalmente centenas de quadros e sequencias serão quase idênticas.


Se já estava difícil para eles serem originais lá nos longínquos anos 40, o que dizer então de nós, nos dias de hoje, com mais sete décadas de mais personagens sendo criados? Vejam o caso de Stan Lee, por exemplo, considerado hoje em dia um ‘gênio universal’. O célebre ‘Homem da Marvel’, para criar seus personagens até hoje famosos, pegou idéias daqui e dali: do Homem-Borracha/Plasticman de Jack Cole, pensou no Sr. Fantástico (que veio mesmo depois do Jimmy Olsen Elastic Lad/Rapaz Elástico e ainda do Elongated Man/Homem Elástico, de Carmine Infantino); o Hulk, como o próprio Stan Lee admitiu, é um misto de Frankenstein com Jeckyl & Hyde; escreveu bonitas histórias do Surfista Prateado/Silver Surfer, mas quem criou o personagem foi Jack Kirby – que por sua vez contestou a autoria de Lee no Homem-Aranha/Spider Man, assim como a contestou Steve Ditko; seu Homem de Ferro/Iron Man é tão somente uma modernização de Bozo O Autômato/Bozo The Robot de George Brenner – sem falar de sua versão do Thor que é inspirada quase que descaradamente no Thor God Of Thunder, de Wright Lincoln. Stan Lee deveria ter se mudado definitivamente para Saturno após 1970, mas, a respeito de sua fase na Marvel nos anos 60 do século passado, mesmo ele tendo imitado de tudo um pouco em suas criações, pode ele ser considerado um mau roteirista? Claro que não! Lee criou ótimos personagens, ótimas histórias (escrevia mesmo muito bem) e com isso encantou milhões de leitores em todo o mundo. O que foi feito dos seus personagens, e o que vem sendo feito nos dias de hoje, não pode ser reputado somente a ele.


Eu vejo o trabalho de Elenildo feito em condições ainda mais difíceis do que as de Stan Lee, em termos de criatividade (e mais ainda em termos de mercado editorial!). Diante de tantas décadas com tantos personagens criados, cabe ao roteirista tentar ser o mais criativo possível, dentro das possibilidades; e o mais importante: deve se esforçar em contar uma boa história. E tanto numa como noutra, ele foi bem sucedido. Foi criativo ao conceber um super-herói com características de Capitão América, Homem de Ferro e do Capitão Nascimento – e mais do que isso, gostei de uma certa dualidade ideológica conferida ao personagem, cujo nome remete ao comunismo (de esquerda), enquanto em seu escudo (que, quando não está sendo usado, vem acoplado ao peito, em sua armadura) ostenta orgulhosamente um símbolo que faz referência ao Exército Brasileiro (considerado de ‘direita’). No mais, apenas reafirmo o que já disse acima: vale a pena conhecer o Capitão R.E.D. pois se trata de história bem escrita, bem desenhada, com personagens interessantes. http://www.capitaored.com.br/  (JS)

Um comentário:

MeuHerói.com disse...

Não tenho palavras para agradecer por tamanho carinho. Fico muito feliz que tenha gostado e principalmente repassado aos amigos do Blog, fico na torcida por mais projetos da Júpiter 2. Sucesso pra todos nós! Elenildo Lopes