Já me confessei algumas vezes, e o farei quantas forem preciso, de que fui um facínora das letras. Já fui facínora de várias formas: da grosseria, da indiferença, da raiva, dos baixos instintos – e consegui reunir todos esses defeitos lamentáveis em diversos textos e etc. que escrevi durante minha vida, por uns vários anos. Ainda pior do que repassar aos leitores as energias negativas, derrotistas, amarguradas de um (ex) espírito melancólico, escrevi e publiquei textos ainda mais vexatórios, onde cheguei a ofender diretamente algum irmão de caminhada, apontando-lhe o dedo em riste e ainda soltando fagulhas de ódio. Que sabedoria formidável a do cristianismo, impedindo as pessoas de julgar moralmente o próximo, de julgar quem quer que seja, pois ninguém é melhor que ninguém, cada um de nós temos nossos defeitos, nossas monstruosidades interiores, e uma auto análise sincera de nossa parte, o reconhecimento de nossas fraquezas nos fará entender que não temos autoridade moral para julgar ninguém! As traves que carregamos em nossos olhos são mesmo muito maiores do que os ciscos que se encontram nos olhos dos outros...
Hoje em dia, mais maduro e sereno, aceitando a sabedoria cristã e me esforçando para pô-la em prática, que remorsos terríveis me provocam as lembranças do passado. Se por um lado é muito difícil evitar remorso em demasia, dar-me conta de minhas próprias mazelas e reconhecer o triste animal furioso que já fui (e, vez por outra, talvez ainda o seja...), são atitudes que podem ser vistas como duros e entusiasmantes desafios para o esforço no aperfeiçoamento moral. Desta forma, venho mais uma vez aqui apresentar um pedido de desculpas, por condutas equivocadas de minha parte. Algo que se deu quando conheci mais detalhadamente o público da internet, notadamente do orkut. Até então, eu era um genuíno “fanzineiro de papel” – e agora o sou oficialmente, graças a série de documentários produzidos por Márcio Sno – e quem viveu a camaradagem, o clima de amizade e companheirismo dos tempos dos fanzines de papel, pré-internet, jamais se esquece. Que ótimo o bom Márcio Sno ter registrado tantos depoimentos importantes & emocionantes dos veteranos fanzineiros do século passado. Pois o que encontrei no orkut foi algo totalmente diferente, oposto mesmo, ao que se via no universo dos fanzines. Claro que vez por outra havia alguma discussão, alguma briga, mas o respeito e a amizade imperavam, fácil, fácil. No orkut, ao contrário, ofensas e xingamentos escabrosos são disparados sem qualquer pudor, muitas vezes por pessoas ocultas sob o anonimato dos perfis falsos. Naquela ocasião, eu dava os primeiros passos como editor do selo “sm editora” (que depois se tornaria Júpiter II), e tentei divulgar os primeiros gibis que vínhamos editando, nas comunidades sobre Quadrinhos. A mais famosa até então era a comunidade no orkut do Universo HQ, o famoso sítio da internet. Pois bem, qual foi minha estupefação, qual foi meu espanto e perplexidade ao me deparar com todos aqueles xingamentos, todas aquelas ofensas, especialmente contra os autores brasileiros dos Quadrinhos e seus personagens. Com meu orgulho ferido, saí falando e escrevendo mal a respeito daquela comunidade, e também contra o dono daquela comunidade, sr. Sidney Gusman, e por fim falando mal do Universo HQ de forma geral. Mas creio que a maior implicância tenha sido mesmo com o sr. Gusman. Desse eu critiquei até algumas coisas que ele disse num programa de televisão. Claro que uma grosseria como esta não se justifica, mas ainda assim tento justificar o injustificável: antes desses eventos, eu só conhecia o sr. Gusman de uma entrevista escrita feita por Henrique Magalhães (outro “fanzineiro de papel”, editor da Marca de Fantasia, um reconhecido editor que defende e publica autores brasileiros). E foi uma entrevista simpática! Tão logo li e pensei que, na certa, tratava-se de uma boa figura, alguém que, assim como Magalhães, também defendesse os artistas brasileiros. Quando descobri que ele é quem comandava aquela comunidade no orkut, e permitia tudo aquilo, então é que comecei escrever coisas mais indelicadas a respeito do sr. Gusman. De qualquer forma, é evidente que, se pretendo ser sincero com quem está lendo isso, devo admitir que eu é quem sou o maior responsável por aqueles textos lamentáveis que escrevi, não só neste caso específico, mas tudo que escrevi ofendendo as pessoas. Por isso devo ao sr. Gusman e a seus parceiros do Universo HQ um pedido de desculpas, que adianto aqui e o qual farei novamente se um dia estivermos frente a frente. Eu é que tive meu orgulho ferido, e acabei me deixando levar por críticas negativas. Cada um tem o direito de ser amigo de quem quiser ser, e mais ainda, gostar daquilo de que quiser gostar, seja uma HQ, estilos de HQ ou o que quer que seja. Andei discutindo com aqueles que defendem o atual estilo da Marvel/DC, que eu acho uma porcaria, mas e daí? Só por que eu não gosto mais disso, devo obrigar os outros a desgostarem também? Entrando neste tipo de debate, só desperdiço meu tempo – que deve ser cada vez mais dedicado ao bom trabalho editorial da Júpiter II, ajudando e sendo ajudado por parceiros, colegas, leitores e fãs.
E minhas agressões verbais ao Universo HQ parecem ainda mais ridículas hoje, quando chegamos ao sexto ano de publicações ininterruptas, mais de uma centena de gibis. E o Universo HQ, mostrando grandeza, mesmo diante de meu destempero verbal acabou divulgando alguns lançamentos nossos (como o faz atualmente com Velta & Mirza). Dentre os vários pedidos e encomendas de gibis feitos nestes seis anos, sempre existe a curiosidade em saber de sua procedência – quem é, de onde fala e onde viu o anúncio de nossas revistas. Pois nenhum cliente ou freguês dos nossas publicações disse ter visto divulgação no Universo HQ. Não porque o Universo HQ não o fizesse, mas pelo fato de que os leitores da Júpiter II em sua maioria não frequenta o sítio Universo HQ, que é notoriamente o preferido dos marvetes e decenautas (que, por sua vez, odeiam e/ou desprezam nossos gibis). O que estou querendo dizer, ressaltando meu próprio ridículo ao escrever ofensas ao Universo HQ, é que, para nossa História, quero dizer, para a História da nossa cooperativa smeditora/Júpiter II, não faria a menor diferença se o Univeso HQ existisse ou não! Por isso venho constantemente insistindo para que nos esforçemos em criar um público novo de leitores de Quadrinhos, dei até alguns exemplos práticos, como o Dia do Gibi Grátis aqui em Jaú. Ou antes disso, quando dava gibis gratuitos para a garotada vizinha da rua. Numa próxima crônica, falarei mais detalhadamente de como podemos fazer crescer a Júpiter II. (JS)
4 comentários:
Fico feliz por ter feito parte da história da Jupiter 2. Fico orgulhoso.As vezes julgamos as pessoas pelo fato de pensarem diferente, mas o que nos alegra é que ainda temos a chance de arrepender e tentar consertar ou retratar o que foi dito. Grande abraço, amigo Salles.
valeu amigo, grande abraço pra vc também!
Zé Salles!
Como já te escrevi em nossas correspondências mensais a moda antica (carta), admiro a sua postura de não ter medo de vir a público a colocar aquilo que pensa, principalemnte quando é para reparar alguma coisa dita ou escrita. Isto é muito bacana!
obrigado pelas palavras de apoio, Denilson!
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