terça-feira, 28 de setembro de 2010

DESTIMDO

Mihály Oláh é um personagem real, que ainda está entre nós – nasceu na Hungria mas há muito já está vivendo no Brasil (atualmente na cidade mineira de Divinópolis) e já ultrapassou a fronteira dos 100 anos de idade. Qualquer pessoa com esta idade já teria certamente inúmeros relatos, inúmeras histórias para contar. Mas, creiam, o Sr. Mihály tem muito, muitíssimo mais a nos contar do que todos, ou, pelo menos, muitíssimo mais do que a imensa maioria dos veteraníssimos cuja companhia ainda desfrutamos. Ele enfrentou (e sobreviveu) a guerras, tiranias, conheceu famosos estadistas antes que se consagrassem em suas posições políticas, trabalhou em profissões distintas como padeiro e espião de guerra, derrubou três ladrões no muque, garimpou em Serra Pelada, e é claro, como qualquer um, viveu amores e desamores. Como eu soube disso tudo? Lendo o livro em Quadrinhos recém-lançado, e todo baseado na vida Sr. Mihály: Destemido, produzido com apoio da Universidade Federal de São João Del-Rey/MG (128 páginas em p&b e tons de cinza, acabamento caprichado). Organizado e editado por Dennis Oliveira (colaborador da Júpiter II, meu parceiro nas aventuras do Tormenta) responsável por arregimentar uma plêiade de talentosíssimos artistas que, através de narrativas diversas, acabaram por produzir um dos lançamentos mais formidáveis dos últimos tempos. Entre estes valiosos colaboradores, estão Wellington Santos (autor do Vulto, publicado pela Júpiter II), Raimundo Gomes, Flávia Andrade, e é claro Dennis Oliveira, que além de editar e organizar mais uma vez mandou bem pra caramba nos desenhos! Destemido funciona, segundo intenções do próprio autor o sr. Mihály, como um complemento do livro escrito por ele anteriormente, batizado com o nome Quatro Ideologias e Um Destino.

E uma satisfação pessoal que tive ao ler esta indispensável publicação: que bom poder voltar a ler boas HQs de guerra! Hoje, como se sabe, é politicamente incorreto produzir HQs sobre o tema da guerra – as piores perversões hedonistas não sofrem rejeições, e quando aparecem nos Quadrinhos logo tornam-se objeto de culto; mas HQ de guerra “não pode”! Ora, o que importa é a ênfase que se dá ao assunto: se o tema é a guerra, não façamos jamais apologia da brutalidade e da violência, mas que possamos abordar este assunto do lado mais humanitário possível. Dentro dessas horrendas carnificinas que são as guerras, surgem não raros episódios de imbatíveis fé e esperança, como estes relatados pelo Sr. Mihály e brilhantemente ilustrados por inspirados artistas dos Quadrinhos! Como fez o roteirista estadunidense Robert Kanhiger durante anos a fio, escrevendo histórias de guerra onde o que imperava eram as virtudes dos guerreiros!

Por essas e outras, não deixem de conhecer esta obra que merece todos os prêmios possíveis e, mais do que isso, merece apreciação e admiração de todos nós fãs de HQ. dennis.zine@yahoo.com.br

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