Os fiéis seguidores
deste blog sabem de minha admiração pela obra do mineiro Lacarmélio Alfêo de
Araújo, também conhecido como Celton, nome de seu mais famoso
personagem de História-em-Quadrinho. Quem digitar ‘Celton’ no campo de busca
deste blog, vai se deparar com importantes postagens a respeito desse
formidável escritor, desenhista e comerciante de Histórias-em-Quadrinhos, que
ganhou notoriedade na capital mineira vendendo gibis nos engarrafamentos de
Belo Horizonte, gibis produzidos integralmente por ele mesmo – e sua
notoriedade expandiu-se muito mais depois de ter participado de alguns mui
populares programas de televisão. Recebo os gibis do Celton sempre pelas mãos
generosas de meu amigo Paulo Joubert Alves, morador da cidade de Santa Luzia na
grande BH, que sempre me envia pelos correios os preciosos exemplares que só
podem ser adquiridos diretamente com o autor.
Além
das aventuras do Celton, um mecânico
boa praça dotado de superforça, Lacarmélio produziu revistas com temas
históricos (sobre a Estrada Real, sobre a Inconfidência Mineira, sobre a
História de Belo Horizonte), uma com temática religiosa (sobre o Natal e o
nascimento de Jesus), uma fábula pregando a paz nos estádios de futebol (em
cores!), uma revista dedicada ao mensalão (onde lamentavelmente livra a cara do
chefe, o ex-presidente Lula, tratado como herói naquele gibi – bem, mas se o
próprio Supremo Tribunal Federal livrou a cara do facínora...), além de outras
peripécias. E agora, no trigésimo número de Celton
(sempre o nome da revista, seja qual for o tema, nome pelo qual o próprio autor
hoje é mais conhecido), Lacarmélio continua surpreendendo: nesta chamada Edição de Indignação, ele relata, sob
narrativa textual ilustrada, um episódio constrangedor do qual foi vítima da
neurose e arrogância de um policial despreparado que sem qualquer motivo o
manteve sentado na traseira de um camburão, diante da via pública, sendo alvo
de curiosidade geral de motoristas e transeuntes. Lacarmélio vendia seus gibis
numa avenida engarrafada como faz diariamente há mais de 30 anos, quando um
policial descontrolado ‘estressou’ com ele sem qualquer motivo, fazendo-o
passar por vexame público. E o melhor de tudo é que o autor não se deixou levar
pela mágoa pura e simples: durante todo o relato, procura deixar bem claro a
importância da existência e da atuação da polícia, de sua História. Relembra
aos leitores as dificuldades e os perigos sem tamanho por que passam os
oficiais da lei, e faz questão de relatar outros episódios em que se deparou
com policiais atenciosos e gente fina. Mas igualmente faz questão de ressaltar
sua indignação e contrariedade diante do episódio do qual foi vítima, do
comportamento absolutamente inadequado daquele policial que o constrangeu. E
que lhe causou inclusive prejuízos financeiros, visto que a boataria que correu
após o episódio chegou a convencer as pessoas de que ele era mesmo um
assaltante de drogaria!, e com isso caíram as vendas dos gibis naquela avenida.
Muito justamente Lacarmélio recorreu a Corregedoria de Polícia, órgão que
mereceu dele as melhores considerações.
Só
num ponto discordo do bom Lacarmélio: no trecho em que ele fala a respeito da ‘ditadura
militar’, considerada por ele como um momento de ‘horror’. Ele mesmo sugere que
as pessoas mais jovens, que não conheceram aqueles anos, que pesquisem a
respeito nos livros e no youtube. Bem, meu caro Celton, permita-me que eu
também lhe sugira alguns livros, aos quais você certamente não leu, dado o
lamentável conteúdo do parágrafo a que você se refere, do período: comece com o
indispensável livro de Hélio Silva, ‘1964 – Golpe Ou Contragolpe?’, lá você vai
constatar que o presidente legitimamente eleito João Goulart praticou e foi
cúmplice de crimes muito pouco legítimos. O livro de memórias do General Olympio
Mourão Filho (organizado por Hélio Silva), memórias escritas na virada das
décadas de 60/70 do século passado, serve perfeitamente como apêndice daquele,
e, pasme, até mesmo profetiza o governo do pt, do Lula, aquele que você
defendeu no gibi sobre o mensalão. Confira as palavras do nobre general:
Em
futuro, embora ainda distante, cessada a vigilância militar, o que é infalível acontecer,
um cripto-comunista pior do que João Goulart, que não é comunista, subirá ao
poder e, senhor quase absoluto do poder, levará a nação para os caminhos que
desejar.
E tais caminhos, o General Mourão também os previu:
A
continuar, um dia o gangsterismo e a máfia (...) virão massacrar as cidades
brasileiras, tanto mais perigosas quanto maiores e mais populosas. Teremos
então a violência e a corrupção articuladas contra um povo ignorante, manso e
inerme. E o Brasil que tem uma vocação marcante para um verdadeiro paraíso
continental, será transformado em um inferno de escravidão, medo e crimes.
Políticos, gangsters e militares ambiciosos se darão as mãos, somarão forças a
fim de partilharem a grande presa. E uma grande noite descerá sobre a nação por
muitos anos (...)
Também
o jornalista David Nasser reuniu suas crônicas sobre o período pós e pré 1964 num
livro chamado ‘A Revolução Que Se Perdeu A Si Mesma’, apontando diversos crimes
do presidente legitimamente eleito, seus aliados e sua corriola (e também não
deixa de mencionar as primeiras burradas do governo pós-revolucionário). Se
você puder dar uma lida no livro do general Sylvio Frota, ex-ministro dos
governos Médici e Geisel, chamado ‘Ideais Traídos’, vai ficar sabendo
detalhadamente a respeito do armamento cedido pelo governo cubano de Fidel
Castro aos grupelhos terroristas-marxistas no Brasil – arsenal capaz de
explodir uma cidade do tamanho de São Paulo, o que teriam conseguido não fosse
a atuação firme das forças legalistas de repressão!
E
que bom que você não exaltou o ex-guerrilheiro do Araguaia e atual presidiário
José Genoíno naquele gibi sobre o mensalão, da mesma forma que exaltou o Lula -
e veria que teria ainda menos razões para o exaltar se tivesse lido os dois
livros do general Aluíso Madruga de Moura e Souza sobre os eventos no Araguaia na
década de 70: ‘Desfazendo Mitos Da Luta Armada’ e ‘Guerrilha do Araguaia –
Revanchismo’, livros que nos dão uma boa noção de onde vinha o verdadeiro
horror!
Um
dos mais odiados e perseguidos agentes da repressão aos terroristas comunistas
hoje em dia é o coronel reformado sr. Carlos Alberto Brilhante Ulstra. Acusado
veementemente de torturador por essas comissões de inverdades, ele se defendeu
lançando um livro chamado ‘A Verdade Sufocada – A História que a esquerda não
quer que o Brasil conheça’. Livro lançado em 2002 e somente agora, mais de uma
década depois, começa a ser vendido em algumas pouquíssimas livrarias, ao
contrário da trilogia de Élio Gáspari, por exemplo, que pode ser encontrada
facilmente em todo lugar. Durante dez anos, o sr. Ulstra e a esposa divulgaram
e venderam o livro de forma independente, no melhor estilo dos fanzineiros! E,
convocado por essa pestilenta comissão da verdade, o sr. Ulstra lá compareceu e
encarou os detratores de peito aberto, saindo de lá maior do que era quando
entrou! Nessa ocasião o sr. foi brilhante, sr. Ulstra! E para não me alongar
muito nas indicações, meu caro Celton, termino com o recente lançamento do
projeto ‘Orvil – Tentativas de Tomada de Poder’, do tenente coronel Lício
Maciel e do tenente José Conegundes do Nascimento, 922 páginas detalhando
pormenorizadamente todo o horror espalhado pelos grupelhos
marxistas-terroristas no Brasil nos anos 60 e 70! Este está disponível na
internet.
Não
basta haver eleições para presidente e governador para um país ser uma
democracia, Lacarmélio! Está aí o livro do dr. Romeu Tuma Júnior, ‘Assassinato
de Reputações’, o livro mais boicotado da História editorial do país, por
revelar as entranhas do estado policial montado pelo pt e por Lula (aquele
mesmo que você exaltou no gibi do mensalão), mostrando que a época atual faz os
governos militares parecerem conto da carochinha! A propósito, se tiver a
oportunidade de ler o livro a respeito do mensalão escrito pelo jornalista Ivo
Patarra, chamado ‘O Chefe’ (disponível na internet), creio que você vai querer
refazer aquele gibi sobre o mensalão exaltando o Lula!
Me
desculpem os leitores, me desculpe Lacarmélio (se é que vai chegar a ler isso
aqui) se desviei do assunto, é que esse tema realmente me tira do sério. Eu
falava do mais recente gibi do Celton, vindo de um autor que merece meu mais
profundo respeito, ainda que desconheça a História dos governos militares. E
essa ‘Edição de Indignação’ em que Celton relata o infeliz episódio que lhe
sucedeu diante da arbitrariedade de um policial, possui tantos outros
atrativos, pois no relato o autor se permite algumas preciosas divagações,
relembrando suas relações familiares – as conversas com mãe nonagenária, a
tristeza pela morte de um irmão mais velho, a dificuldade para se educar um
filho – e ainda sobre sua carreira. A respeito desta, duas passagens
especificamente me chamaram a atenção: quando Lacarmélio relembra que, em mais
de 30 anos de estrada, nenhuma editora de grande porte se interessou por seu
trabalho – e, lamento dizer, nem vai se interessar, nem pelo seu trabalho, nem
pelo meu. A ‘elite’ dos Quadrinhos no Brasil só vive de bajular a Marvel/DC,
Angeli e sua patotinha, o resto é mangá. E noutra passagem, ele fala das
tremendas dificuldades de se produzir uma edição independente, e cita as
críticas que recebe na internet de gente menosprezando a qualidade artística de
seu traço. Bem, críticas semelhantes acontecem com o trabalho deste que vos
escreve, gente que nunca editou um fanzine na vida e deita má falação nos gibis
e nos autores da Júpiter II, falando mal inclusive de autores já falecidos. Pessoas
que não têm a menor noção, nem a menor idéia de como se dá o processo de
produção de edições independentes e posam cheio de pedantismo como críticos
arrogantes e implacáveis! Você tem toda razão em não responder a essas pessoas,
Celton, e venho agindo dessa mesma maneira. Nossa resposta a esses chatos é
continuar lançando gibis. Cada gibi que lançamos é uma vitória contra eles,
motivo de alegria para nós e recrudescimento de rancor e amargura para os
nossos críticos. (JS)
12 comentários:
Artigo perfeito! Ótimo guia para as pessoas entenderem o que se passou na Revolução de 1964 que adiou por 20 anos que o Brasil vivesse os horrores da ditadura comunista que vivemos nos dias de atuais!
Gostei do artigo.Muito informativo(e já estou compartilhando).Eu fui contra a ditadura militar na minha juventude.Hoje,tenho saudade.O que os "democratas" queriam,não era liberdade e sim libertinagem,principalmente no campo da moral e dos costumes!Aliás,democracia no Brasil é o governo do demo e não do povo!A minha posição é a mesma da Igreja:nem comunismo,nem capitalismo!
Sobre Lacarmélio e o episódio pelo qual passou, o que mais me comoveu foi ele descrever o trauma que seu filho ainda pequeno sente em função do acontecido. Quanto à questão política, infelizmente (e falo isso com a isenção de quem se considera apolítico), muitos ainda fazem vista grossa para os atos de Lula e cia por ele ter promovido a política de distribuição de renda do "bolsa esmola". Lamentável a perpetuação do estilo "rouba mas faz" no governo.
Ops, desculpe por ter na pressa não me identificado no comentário anterior, sou Paulo Joubert. Fui distraído e esqueci de clicar na opção de escolha de identidade correta.
Inconcebível no mesmo texto defender a ditadura militar e esta edição de indignação do Celton (Lacarmélio). Simplesmente não haveria tal revista na ditadura.
É mesmo? E o que você me diz de uma josta como O Pasquim, que circulou com tiragem de centena de milhares durante a 'ditadura'? E ainda por cima na fase pós-AI5? Ó, que 'ditadura' cruel, não?
'Em 1º de novembro de 1970, a
censura e a repressão chegaram à redação de O Pasquim
. Parte dos jornalistas e
cartunistas do jornal foi presa. Apesar disso, o tabloide não saiu de circulação, com o 64
auxilio dos que não haviam sido presos e de outros colaboradores.
O Pasquim retomou os trabalhos sem que os seus leitores soubessem o que havia acontecido. “Com a criatividade que lhes era peculiar, os membros da patota
fizeram com que os leitores
soubessem da prisão de uma forma que só O Pasquim poderia fazer, por intermédio do humor, referindo-se a prisão como um
surto de gripe” (VAUCHER, 2012)'
pois é, circularam vários números de O Pasquim antes dessa apreensão - e voltou a circular depois! Lembremo-nos também que a Editora que mais cresceu durante os governos militares, foi a Civilização Brasileira, do renomado militante do PCB Ênio Silveira, tendo editado diversos livros de autores comunistas. Portanto, esse argumento de que 'o gibi do Celton não existiria durante a ditadura' já caiu no ridículo.
Por isso é que insisto que devemos estudar os assuntos, saber a respeito da história - não por acaso, cito diversos livros no artigo - pois esse é o melhor antídoto para não sairmos por aí repetindo frases feitas, como se fôssemos papagaios de pirata.
Como por exemplo o recente livro do professor Marco Antônio Villa, "Ditadura à Brasileira", onde ele mostra que a liberdade criativa, cultura e artística entre 1964 e 1968 foi muito mais intensa e prolifica do que nos dias de hoje, por exemplo - e quem não tiver preguiça de ler, vai constatar.
Sim de 64 a 68 houve festivais musicais, houve Cinema Novo, Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona e outros grupos cênicos. Foi quando este pessoal começou a incomodar. E houve o "golpe dentro do golpe". Mas se diz que os primeiros 4 anos foram brandos, certamente vc não gostaria de fazer parte de uma das ligas camponesas no nordeste em 1964, por exemplo.
Se ocorrido naquela época, era bem possível que Lacarmélio fosse levado sem chance de réplica e por fim sumisse nos porões. Esta é a triste verdade, ocorreu inúmeras vezes. Quer vc seja de direita, tenha inclinações militaristas, abomine as benesses aos trabalhadores, quer não, seu lado humano não pode fingir que isso não acontecia.
Hoje sim, não temos ditadura, não somos comunistas, sim há horrores diversos, mas ao menos não são chancelados pelo Estado de fato e de direito.
bem, já que eu não consigo ser tão humanista como você, já que meu direitismo militarista me impede de atingir uma posição tão angelical como a sua, só me resta refutar sua última frase: se você acha que hoje em dia o Estado não chancela nenhuma barbaridade, na certa não leu o livro "Assassinato de Reputações" do Dr. Romeu Tuminha. Como eu disse no texto: faz os governos militares parecerem contos da carochinha.
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