O maior e melhor
historiador do Brasil, na atualidade, chama-se Laurentino Gomes. Três de seus
livros tornaram-se, justamente, alguns dos mais vendidos nas livrarias
brasileiras, todos eles intitulados com os anos que marcaram efemérides
decisivas na História brasileira: 1808
(chegada da Família Real portuguesa ao Brasil), 1822 (Independência do Brasil) e 1889 (Proclamação da República). Nestes três livros, Gomes comete
um único deslize – lamento muito dar ênfase a um único deslize numa obra
formidável, magnífica, indispensável, que todos deveriam conhecer, mas é um bom
‘gancho’ para o que eu gostaria de dizer nas linhas que seguem. Pois bem, o
referido único deslize do notável historiador aparece no livro 1822:
Em 1972, ano do Sesquicentenário
da Independência, D. Pedro foi mostrado no filme Independência Ou Morte como um herói de porte marcial, sem
vacilações ou defeitos, interpretado pelo ator Tarcísio Meira. Era a moldura
que lhe cabia naquele momento em que o governo militar torturava presos
políticos, propagandeava o milagre econômico e tentava dourar a história
oficial nas disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e
Política do Brasil.
Bem,
vamos começar do início, diria o Conselheiro Acácio: o filme citado por Gomes,
praticamente banido entre nós, não mostra D. Pedro I como alguém “sem
defeitos”. Os defeitos são apresentados sim, mas sem a ênfase que se dá a eles nos
dias de hoje, como um amante das noites boêmias e fascinado pelo sexo feminino.
Sua infidelidade conjugal também não é ocultada. Tampouco a soberba que tomou
conta de seu espírito, durante um breve tempo em seu curto reinado. Provavelmente
Gomes não tenha conseguido rever o filme, já que nunca é reprisado em lugar
nenhum, tampouco foi relançado em dvd. No começo deste século, a revista Isto É lançou uma série de filmes em
vídeo-cassete (VHS), e entre eles o Independência
Ou Morte dirigido por Carlos Coimbra. Foi a última vez que tivemos notícia
deste filme, e talvez por isso Laurentino Gomes não tenha conseguido
re-assistí-lo, para formar melhor opinião sobre ele. Eu tenho lembrança muito
forte desse filme. Lembro-me de tê-lo assistido pela primeira vez no Cine Rio
Preto, da cidade de São José do Rio Preto, um imenso cinema com 1100 lugares
(hoje é um shopping center). Lembro-me também das imensas filas que se
formavam, atravessando praça do centro da cidade (foi um retumbante sucesso nacional
de bilheteria), e me lembro, especialmente, da eufórica vibração da platéia,
com urras e aplausos, na seqüência marcante do Grito do Ipiranga, quando o ator
Tarcísio Meira, na plenitude de seu vigor físico, incorporando todo o heroísmo
daquele momento histórico, encarnou o que de melhor havia em D. Pedro de
Alcântara! Revendo o filme, há pouco tempo atrás – consegui uma cópia do VHS da
Isto É e repassei as imagens em dvd –
pude constatar que filme grandioso é Independência
Ou Morte, muito além da citação simplista de Laurentino Gomes. Uma
super-produção caprichadíssima de Ovaldo Massaíni, contando com os atores &
atrizes mais famosos da época (alguns o são ainda hoje), e retratando com muito
respeito os personagens e os acontecimentos históricos. Mais desastrada ainda do
que a opinião de Gomes sobre o filme, é a conotação política que expressa sobre
ele, onde algum leitor desavisado poderia até mesmo ter a impressão de que o
ator Tarcísio Meira defendia a tortura de presos políticos. Também parece
desgostar a Gomes o sistema de ensino dos governos militares, particularmente
as disciplinas citadas de EMC e OSPB.
Repito:
a obra de Laurentino Gomes é uma das melhores coisas que poderia ter acontecido
para a historiografia brasileira, com sua análise e suas impressões bastante
lúcidas sobre o Império brasileiro, a partir de estudo riquíssimo. Mas me
permito discordar inteiramente de suas opiniões naquele que considero seu único
deslize. Fiz o ensino básico no tempo do governo Geisel e agradeço aos céus ter
tido a oportunidade de ter estudado a História do Brasil sob a ótica dos
grandes heróis, dos grandes acontecimentos. Vejam que tristeza que se tornou o
ensino brasileiro depois que isso foi erradicado, e entrado em seu lugar as
pedagogias freirianas, marxistas, marcusianas, gramcistas, enfim, toda esse
excremento comunistóide, toda essa pobreza coletivista que vem transformando
nossos jovens em bestas analfabetas e enfurecidas, revoltados com o Brasil. Se
antes saíamos da sala de aula cheios de esperança com o nosso país, honrados de
ser brasileiros, hoje existe ou o alienamento pleno, ou a ferocidade
anti-civilizatória. De resto, não custa lembrar que os governos militares não
se resumiram unicamente na tortura aos terroristas encarcerados. O tão
propagandeado ‘milagre econômico’, não existiu mesmo? Não teve o Brasil,
especialmente sob o governo do Presidente Médici, um salto econômico e
desenvolvimentista jamais visto antes? Mesmo porquê, o país passava por um
momento histórico inédito, da crescente urbanização do país. E a
infra-estrutura construída no período, as estradas, as usinas? Alguém pode imaginar,
por exemplo, o Rio de Janeiro sem a ponte Rio-Niterói, ou o Brasil sem Itaipu? E
comparemos: o atual governo socialista, há 12 anos mamando no poder, fez o quê,
a respeito de infra-estrutura? Simplesmente aproveita-se do que foi construído
durante os governos militares! E ainda levou a ruína nosso sistema educacional!
Se antes os grandes personagens de nossa História, aqueles homens que
impulsionaram o Brasil para a grandeza, eram exaltados com o merecimento que
conquistaram por suas atitudes corajosas e heróicas, hoje em dia, no processo
de desqualificação dos nossos vultos históricos, faz-se indispensável a
chacota, o deboche, a ironia e o sarcasmo ao retratar aqueles mesmos
personagens. Dentre eles, nenhum vem sendo tão ridicularizado quanto D. Pedro
I. Hoje em dia, nosso grande herói só é lembrado por suas fraquezas, por seu
gosto por noitadas e fascínio pelo sexo feminino. Os que atualmente dão as
cartas nos currículos escolares, e que não perdem oportunidade de menosprezar o
nosso primeiro Imperador, poderiam ao menos lembrar-se do que disse Humberto de
Campos:
As
aventuras amorosas de D. Pedro eram perfeitamente comentadas pelas anedotas da
malícia carioca. O povo, conhecendo alguma coisa de sua conduta particular, se
encarregou de elaborar a maior parte de todas as histórias ridículas em torno
de sua personalidade, que, se rude e sensual, não era diferente da generalidade
dos homens da época e tinha, não raras vezes, rasgos generosos, que alcançavam
os mais altos cumes do sentimento.
Ou
seja, aqueles que falavam que D. Pedro era mulherengo e beberrão eram, em sua
maioria, igualmente mulherengos e beberrões! Sem que detivessem, é claro, um
rasgo sequer de suas notáveis virtudes.
Se
o estrago feito pelos nossos pedagogos dos ensinos fundamental e médio foi
terrível, não se compara ao que foi feito e ainda vem sendo feito nas
universidades – especialmente nas do campo de humanas, notadamente nos cursos
de História, que vêm se especializando em transformar alunos em feras
rancorosas, odiando cada momento em que vivem no Brasil – claro, nem todos saem
assim, mas são tantos, e tão grandes estragos vêm promovendo na sociedade, que
não podem deixar de ser denunciados. Eu mesmo fui vítima dessa engrenagem
maligna: aluno do curso superior de História, lia muito Marx, Gramsci, Marcuse,
Hobsbawun, Paulo Freire, dentre uma incontável lista de teóricos comunistas. Só
vim a realmente estudar História, particularmente História do Brasil, depois
que concluí a faculdade. E hoje me pergunto, perplexo: como será possível que
um curso de História do Brasil que se preze, não conste em seu currículo um
autor como Octávio Tarquínio de Souza? (uma das mais preciosas fontes de
Laurentino Gomes, diga-se) Pois foi através desse valoroso historiador nascido
no ano de proclamação da República que nos foi legada a mais importante obra
sobre os Fundadores do Império Do Brasil, onde foi possível conhecer
verdadeiramente a importância de D. Pedro I para a nossa História. Souza o
retrata como um homem dotado de virtudes e defeitos, mas enfatizando a grandeza
de suas decisões num momento histórico decisivo para a nação brasileira. Foi
através da obra de Souza que pude constatar as fascinantes contradições daquele
personagem, um português de alma brasileira, ao mesmo tempo autoritário e
liberal (fechou a Assembléia Nacional sob a força dos canhões, e em seguida
outorgou uma Constituição que foi considerada muito avançada para a época, com
uma lei criminal e uma lei orçamentária inovadoras), explosivo e terno, marido
infiel e pai extremamente dedicado e amoroso, até mesmo com seus filhos
bastardos. Mas, o que mais impressiona ao se estudar cuidadosamente a vida de
D. Pedro, é a firmeza de seu caráter para tomar decisões políticas certas nos
momentos cruciais: no dia do ‘Fico’, no Grito do Ipiranga, na abdicação –
decisões corretíssimas que visavam, acima de tudo, a pacificação do Brasil. Sempre
enfrentando, desde a infância, difíceis problemas de saúde, danos
gastro-intestinais, e o mais grave deles: os ataques de epilepsia. E jamais nos
esqueçamos de que, quando optou por ficar no Brasil e posteriormente proclamar
sua Independência política, D. Pedro ainda não havia completado 24 anos de
idade! Um jovem, levado a tomar decisões tão importantes! E, no momento mais
doloroso, o de sua abdicação, renunciou não só ao trono, mas a si mesmo, à Pátria
amada que adotou como sua, ao filho e as filhas que tanto amava (seguiu com ele
somente a primogênita Maria da Glória, futura Maria II Rainha de Portugal),
tudo isso para que o Brasil não descambasse para a guerra fratricida!
Ninguém
nega os defeitos de D. Pedro, nem a História. A sua paixão descontrolada pelo
sexo feminino impediu-o de ser um marido fiel, e por isso várias humilhações
teve que suportar sua esposa, e mãe daquele que futuramente seria D. Pedro II,
a imperatriz Leopoldina. O Brasil tem muito a agradecer a esta senhora, por sua
dedicação familiar e sua presença importante nos eventos políticos, aliada
indispensável de José Bonifácio nos acontecimentos que antecederam a
Independência. A mais grave acusação que pesa contra D. Pedro I é a de que
teria espancado a imperatriz quando grávida, e resultando disto, um aborto.
Tarquínio de Souza diz expressamente que não há provas concretas sobre isso;
também Laurentino Gomes, anos depois e com maiores dados historiográficos, não
chega a uma conclusão perfeitamente afirmativa. Mas, de qualquer modo, as
diversas humilhações sofridas pela Imperatriz, diante das constantes
infidelidades do marido (notadamente no episódio da viagem a Salvador, onde D.
Pedro I, sem qualquer constrangimento, levou consigo sua amante Domitila de
Castro), fizeram adoecer o coração da nobre Leopoldina, tristeza e melancolia
que acabariam por levá-la à morte. O que os detratores de D. Pedro I omitem
dizer, foi o avassalador remorso que dominou os sentimentos do imperador depois
do falecimento de sua esposa, a ponto de desfazer o relacionamento com a amante
Domitila, e ter adotado postura totalmente distinta com sua segunda esposa, a
Imperatriz Amélia, com quem teve um relacionamento quase fiel – quase, afinal, o
homem era decididamente fascinado pelos prazeres do sexo.
Outro
ponto onde se procura de todas as formas diminuir a importância de D. Pedro I,
é o exato momento da proclamação da Independência, o Grito do Ipiranga. O
esforço dos pedagogos marxistas, aqueles que promovem entre os jovens o ódio
pelo Brasil, é ridicularizar o quanto possível aquele indispensável momento de
nossa História. A imagem que tínhamos durante os governos militares, era ainda
aquela do quadro de Pedro Américo, O
Grito do Ipiranga, de 1886. Nele, D. Pedro, trajado galantemente, montado
num fogoso alazão, cercado pelos Dragões da Independência, ergue a espada
triunfante, proclamando a Independência do Brasil. No filme de Carlos Coimbra,
essa imagem é posta em movimento, e lá ouvimos o retumbante brado
‘Independência Ou Morte’, vindo daquele D. Pedro interpretado majestosamente
por Tarcísio Meira, na seqüência cinematográfica que empolgava os espectadores
brasileiros. Octávio Tarquínio de Souza apresenta documentos históricos que
comprovam que a coisa não havia sido bem assim, que ao invés de um alazão, D.
Pedro montava num burrico, assim como sua delegação, pois era aquele o animal
mais indicado para percorrer aquelas regiões, na época. E que nosso herói havia
sido, de fato, acometido de alguma deturpação intestinal que lhe obrigou a
parar viagem, e neste momento recebeu a notícia de que as cortes portuguesas
exigiam seu retorno ao velho continente. Foi então que nosso nobre monarca
decidiu-se, de uma vez por todas, pela Independência política do Brasil.
Pois
bem, em momento algum, mesmo diante dos documentos, Tarquínio desmerece aquele
importante, decisivo momento histórico. Para ele, o fato de um jovem príncipe
ter tomado tão corajosa decisão, apenas enaltecia seu caráter. Mas, as
circunstâncias materiais daquele momento, a necessidade de se usar mulas como
transporte naquelas regiões inóspitas, e a fraqueza estomacal de D. Pedro (um
problema que o acompanhava desde a infância, agravado pela alimentação
inadequada da viagem) transformaram-se em momentos de grande escárnio, e, pasmem,
não somente para os historiadores marxistas, mas até mesmo um filósofo do porte
de Olavo de Carvalho escreveu texto ridicularizando D. Pedro por aqueles
motivos. Todos desmerecendo o fato de que um jovem de 23 anos se viu diante de
uma situação periclitante, que prescindia de uma decisão firme, corajosa, a
favor do Brasil. E desta forma agiu nosso Príncipe, a favor do Brasil, pouco
importa se montado num alazão ou num burrico, pouco importa se desfrutando de
plena saúde ou sofrendo problemas estomacais. Quando Pedro Américo apresentou
sua tela aos jornalistas no final do século XIX, defendeu seu trabalho diante
dos fatos históricos reais (citado por Laurentino Gomes):
Se
tal ocorrência foi com efeito real, e até mereceu atenção do cronista, ela é
indigna da História, contrária a intenção moral da pintura, e por consequência
imerecedora da contemplação dos
pósteros.
E
recorro ao cronista Nélson Rodrigues que, neste caso, não teria dúvida em
afirmar que, se a imaginação é melhor do que os fatos, pior para os fatos! Se
os intelectuais desprezam a proclamação da Independência do Brasil e seu principal
protagonista, o mesmo não acontece com a dupla de cancioneiros Carreiro e
Carreirinho, que apresentou ao público a graciosa moda de viola 500 Anos de Brasil, cantando, numa das
estrofes:
Salve D. Pedro I
A Independência Conseguiu
Lá nas margens do Ipiranga quando seu sangue subiu
A carta de Portugal ela tremeu quando abriu
Com seu braço rijo e forte
Gritou Independência ou Morte e ninguém deu um pio.
A Independência Conseguiu
Lá nas margens do Ipiranga quando seu sangue subiu
A carta de Portugal ela tremeu quando abriu
Com seu braço rijo e forte
Gritou Independência ou Morte e ninguém deu um pio.
A
respeito da vida de D. Pedro I após a abdicação, repousa um silêncio sepulcral
da parte dos historiadores marxistas, dos historiadores do deboche, do
sarcasmo, dos propagadores do ódio e da revolta entre os estudantes. De fato,
como ridicularizar as atitudes do nobre monarca, após 1831? Como negar o líder
militar inconteste na terrível lide contra as forças militares superiores do
irmão Miguel, o usurpador do trono português? Como desmerecer a heróica resistência
de um ano na cidade do Porto, até receber finalmente ajuda militar das grandes
potências da época, Inglaterra e França? Como não se emocionar sabendo que as
agruras daquela brava resistência agravaram em seu organismo as doenças das
quais já sofria, e que resultariam em sua morte, com pouco mais de trinta anos
de idade? Morte que só veio após outra vitória, a restauração do trono
português a favor de sua filha Maria da Glória, coroada como Maria II.
Eis
um grande desafio para nós, que nos denominamos ‘formadores de opinião’. Que
tipo de História devemos escolher para repassar aos mais jovens? Aquela contada
nos bancos escolares do tempo dos governos militares, exaltando os heróis
nacionais, os seus grandes feitos a favor do Brasil, quando explodíamos de
alegria ao assistir o filme Independência
ou Morte, ou aquela que temos hoje, e desde há vários anos, a ideologia
socialista-comunista que já formou uma geração de jovens que odeiam o Brasil,
cujas consequências puderam ser tristemente constatadas na cidade de São Paulo,
no 7 de Setembro de 2013: enquanto, na Avenida Paulista, os nojentos black
blocs queimavam a bandeira brasileira, no parque do Ibirapuera os molambentos
da extrema-esquerda vilipendiavam o Monumento dos Bandeirantes hasteando a
bandeira não do Brasil, mas da Cuba comunista! É isso que queremos para o
Brasil? Black blocs, pt e psol? Um “Cubão”? Quem não quiser odiar o Brasil e
seus heróis, encha o peito e grite comigo:
Viva
D. Pedro I!
Viva
o Grito do Ipiranga!
Viva
o Sete de Setembro!
Viva
a Independência do Brasil!