A 130ª. edição do fanzine
QI lançada neste final de ano representa, como sempre, uma grande
alegria – mesmo que, tal como no número anterior, a capa nos informe de triste
notícia, da partida de outro grande editor brasileiro, o alagoano Valdir de
Amorim Dâmaso, possivelmente o maior editor de fanzines que o Brasil já teve,
com mais de 150 publicações lançadas de suas polpudas Edições Gibizada. Foi-se
o grande mestre fanzineiro depois de oitenta anos de vida muito bem vividos e
produtivos. A caricatura na capa representando Valdir Dâmaso (e que ele mesmo
sempre utilizava em suas edições) foi feita por um ex-colaborador de seus
fanzines, o grande artista ítalo-brasileiro Umberto Losso, que também já nos deixou,
há alguns poucos anos atrás. Mais do que merecida a homenagem a Dâmaso prestada
pelo editor do QI Edgard Guimarães (que
por muito tempo distribuiu os fanzines Gibizada pelos correios), além da capa
assinando bonita crônica sobre vida & trabalho do ex-parceiro.
E segue a vida, segue o QI. Edgard Guimarães assina neste número
mais artigos sobre o universo das HQs, começando com ‘Coisas de Akim’ – quem não
se lembra do Akim?, aquele personagem
italiano que era cópia do Tarzan, e que por tantos anos circulou nas bancas
brasileiras? Pois Guimarães faz uma incrível listagem completa das edições do
Akim lançadas na Itália e no Brasil; em ‘Considerações Sobre os Fanzines’,
reproduz uma entrevista feita com o editor do QI por Douglas Utescher, e
destaco uma das repostas concedidas pelo Edgard Guimarães: “mas a internet tem
criado uma geração de gente que quer tudo de graça. Não são essas pessoas que
vão se interessar por fanzines impressos”. Triste verdade...
Como vem sendo praxe nas edições
do QI, sempre ou quase sempre nos é relembrado algum personagem super-heróico
brasileiro dos Quadrinhos, e o homenageado deste número é o Flama, do paraibano Deodato Borges – o pai
de Deodato Filho, aquele que hoje é internacionalmente reconhecido como Mike
Deodato – criado no ano de 1963 no rastro do sucesso de um programa
radiofônico. Lembrando que, infelizmente, também Deodato Borges nos deixou
neste ano de 2014.
Ausente do número anterior, a
sessão ‘Mistérios do Colecionismo’ aborda sobre aquelas chatíssimas revistas de
‘resistência à ditadura’ – oh, que ditadura cruel essa que permitia a livre circulação
dessas tralhas como o Pasquim, não é mesmo? E pensar que os editores dessas
porcarias hoje recebem indenizações milionárias por causa disso! Sorte do “revolucionário”
Jaguar, que hoje pode comprar caixas e mais caixas de uísque importado, e nem
precisa mais se preocupar em desenhar ou escrever – sorte nossa, pois há muito
esse sujeito já perdeu a criatividade e vive dos ‘louros’ do Pasquim! Muito
mais interessante foi ler, de autoria do mesmo Ed Guimarães, o artigo
intitulado ‘Histórias Sem Fim’, a respeito daquelas sagas intermináveis,
típicas dos quadrinhistas europeus, de apresentar histórias que demoram décadas
para terminar (quando terminam)! Mas foi bom saber que lá no Japão e em outros
países já circula a nova versão do Lobo
Solitário, escrita pelo mesmo Kazuo Koike e agora ilustrada por Hideki
Mori, haja vista que Goseki Kojima, o ilustrador da série original, já nos
deixou. Na coluna ‘Mantendo Contato’, Worney Almeida de Souza relembra algumas
publicações nacionais com personagens estrangeiros que, apesar de bem
produzidas, tiveram vida curtíssima nas bancas.
E temos as sessões habituais: o
Fórum de leitores, a relação das edições independentes, além da bonita crônica
natalina de Espedicto Figueiredo e algumas HQs poéticas (de Dennis Oliveira e
Chagas Lima) e cômicas (de Luís Cláudio Lopes Faria, Paulo Miguel dos Anjos e
Rafael Grasel) – além do indefectível Poeta
Vital, na quarta capa.
E mais uma vez Ed presenteia os
fiéis leitores do QI com um brinde sensacional, o segundo volume da coleção ‘Pequena
Biblioteca Sobre Histórias-em-Quadrinhos’: O
Outro Maurício, produzido pelo ilustrador e editor Luiggi Rocco, abordando
uma faceta do criador da Turma da Mônica, Maurício de Souza, que poucos
conhecem ou se lembram: como distribuidor de tiras em Quadrinhos para jornais,
no estilo dos syndicates americanos, não só com seus personagens mas também outros
de autores diversos: Osvaldo Talo com Caramuru
e Licky Lucky; Otávio Câmara de
Oliveira com Canarinho, Lyrio Aragão
com Teobaldo, o Detetive; Jaime Colin
com Vizunga; Julio Shimamoto com O Gaúcho (que os leitores da Júpiter II
conhecem tão bem) e Coisas do Futebol.
De Maurício de Souza são citados personagens que hoje estão praticamente
esquecidos, como Os Dez Ajustados, Teveluisão, Mug, Nico Demo, Os Souza, entre outros. Um resgate
importantíssimo feito por Rocco, com ajuda de Guimarães. Portanto, mais do que
nunca é preciso conhecer e prestigiar o QI,
contatando o editor Edgard Guimarães em edgard@ita.br
(JS)